Era muito, muito menina e eis que chegava o dia do pai. A minha educadora punha-me a fazer uma prenda para o dia do pai.
Eu chorava e ela telefonava à minha mãe.
Não havia nada a fazer. Ela abria os braços e eu agarrava-me para não me despenhar no abismo da revolta.
O que é ter um pai?
Ela chorava por dentro e apertava-me a mão.
Fiz-me à vida.
Sou grande.
Amo o meu progenitor apesar do muro que a vida interpôs entre nós.
Amo o que poderia ter sido…
Lamento e compadeço-me pela perda dele.
Não me viu crescer, não celebrou as minhas conquistas, não amparou as minhas derrotas, não se cansou da minha tagarelice, não comeu “picocas” comigo e o pior de tudo…
Perdeu-me!
Perdeu o deslumbramento de contemplar o Mundo doce, generoso, sábio, transparente, corajoso e divino que cresceu na Pessoa que irradia de mim.
Assim hoje é dia do pai. Já não choro. Sei tolerar as dores e apesar de tudo tenho paz para embrulhar a minha gratidão por, nos acasos loucos da vida, me teres trazido à vida num sopro de amor.
E sim, ela contou-me. Foi Amor.
Obrigada pela vida.
Estou aqui. Sabes onde me encontrar. Sempre.
Porque um P e um ai será sempre a palavra PAI.
Maria Miguel