
Chegados ao fim e ao inicio de um ano é obrigatório procurar a balança. Pesemos o que ganhamos e o que aprendemos. É obrigatório reler a agenda de folhas encaracoladas, rotas e gastas. Terão muita sorte se passearem os olhos na galeria das fotos sem peso nem cheiro.
Nas nossas mãos desmãozadas há uma mixórdia de carne e chips, articulações e telas OLED e memórias RAM. Onde termina o telemóvel e onde começam as mão? Já não interessa porque é nessas desmãos que registamos, guardamos e arquivamos os meses, semanas, dias, horas, minutos e segundos desse tiq-tac-tic-tac de 2022 cada vez mais esfumado.
Pensem lá como seria se…
Desses milhares de fotos imprimissem 12
E.. em cada uma um rótulo, começado por
Senti
Aprendi
Desculpei
Apaguei
Esqueci
Reconciliei…
E imaginem lá se…
Dobrassem 12 barquinhos de papel e essa fragata navegaria para 2023 transportando uma intenção que não seria vossa porque seria de todos. Assim como – a nossa Humanidade comum. Seria uma inquebrável e diamantina convicção da chegada a um TEMPO absolutamente branco onde a cor vermelha não fosse sangue e ódio mas paixão e inocente luxúria…
Não conseguem ver? Então fechem os olhos.
Cerrei por momentos as pálpebras e ouvi. Um segredar que dizia…
“É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer”.
E porque sempre ilumino os meus mortos. Iniciarei 2023, acrescentando uma vela, extra no meu altar. Uma vela para Eugénio de Andrade.
É urgente o amor.