
Juntas fizemos a viagem.
Nadamos no mar da incerteza. No escuro da tua dor. Na água das minhas lágrimas, presas no fundo negro dos meus olhos.
Não me deixaram trocar de papel contigo. Calei o grito.
A morfina que te injectaram não te levou ao reino dos sonhos.
A noite foi de eternidade, tal como o dia em que me nasceste na vida.
Velei-te, vigiei tudo em ti.
Minha menina, meu amor. Minha vida.
Pedimos à bruxa: dá-lhe pernas! Transforma a menina sereia em princesa! Dá-lhe joelhos firmes!
Minha bebé sereia…
Como te doeu e como me rompeu…
Curei-te com chocolates, pintarolas, biscoitos e bolachas. Tudo!
Um coração de algodão doce só para ti.
Levantei-te da cama e fiz-te acreditar que o mundo era todo teu.
Só tinhas que caminhar.
Os passos da sereia ainda menina mas amanhã mulher.
Foi a dor lancinante o que te esperou no areal dessa praia. Sem fim, sem ondas e sem os pores do sol que tanto persegues.
Choraste, desesperaste, desfaleceste mas ainda assim deste o primeiro passo.
Foi só ontem mas foi noutra vida. É cura. É passado.
Agora é hora de celebrar! A vida fez-te valente e a coragem é a tua herança.